São três
horas da tarde naquele mês de outubro. Dentro do seu carro estacionado num parque-auto
coberto, olhou o telemóvel com impaciência. O seu amor ficara de o avisar logo
que entrasse no parque. Tinha combinado aquele local de encontro para evitar os
olhares de terceiros. Havia quase um ano que a não via e iria recebê-la com
demasiado entusiasmo. Queria estar à vontade.
Um minuto depois recebe o esperado
telefonema.
«Olá querido. Entrei agora no
parque.»
«Olá amor, vou já ao teu encontro.»
Respondeu, deslocando-se para a entrada. Abriu a porta e ela entrou. Olhou-o
com aqueles olhos meigos que sempre o fascinaram. Recebeu um beijo na face e
sorriu. Não retribuiu o beijo e conduziu uns 50 metros estacionando de novo.
Desligou o motor do carro, trancou as portas com a mão esquerda e com a direita
segurou a cabeça da sua amada. Olharam-se com ternura. Aproximou a sua cara à
dela. Os seus lábios entreabriram-se. Não resistiu e passou a sua língua por
eles. Sentiu um prazer que há muito não sentia. Uniu os seus lábios aos dela,
desta vez com sofreguidão. Provou a sua língua e as suas borboletas despertaram.
Estava sequioso dos seus beijos, do seu sabor, do seu calor, dos seus olhos, do
seu cabelo. Durante muito tempo as suas línguas brincaram uma com a outra. Estavam
loucos de prazer. As mãos percorriam o corpo um do outro sem parar.
«Vim apenas para tomar um café,
querido.» Disse ela com aquele sorriso de criança.
«Eu sei, amor. Apenas te
cumprimentei. Dá um retoque na maquilhagem enquanto eu conduzo. Estás toda
esborratada.» Disse ele sorrindo também.
Saíram do parque, direitos a uma pastelaria,
de mãos dadas e entraram. Para seu agrado, estava quase deserta. Sentaram-se ao
fundo e de novo os seus olhares acusaram amor mútuo. Pegou-lhe nas mãos e
apertou-as com tanta força que a magoou.
«Querido, partes-me os ossos…» gemeu. Olhou-a embevecido e desejou-a. Queria
abraçá-la, beijá-la com ternura. Queria envolver os dedos nos seus cabelos. O
seu gemido fez-lhe recordar a última vez que estiveram juntos, havia muitos
anos.
«Perdoa-me, amor. De quanto tempo dispomos
para estarmos juntos?» Perguntou.
«Depende.»
«Depende de quê?»
«Do tempo que tu tens.» Respondeu
ela.
«Podes ficar comigo até às 8?»
«Da manhã?» Brincou ela.
«Oh, amor, não me martirizes.
Adorava, mas hoje não estava preparado.» Lamentou.
«Então vamos embora.» Respondeu ela.
«Estamos aqui há 15 minutos, porquê
irmos embora já?»
«Temos pouco tempo para estarmos
juntos. Despacha-te. Já marcaste hotel?»
«Amor, és mesmo “safada”». Beijou-a
na boca e só então reparou, ou foi impressão sua, mas os poucos clientes
presentes tinham os olhos postos em ambos. O sangue subiu-lhe à face a ponto de
ela lhe perguntar:
«Que foi? Coraste.» Beijando-o novamente
na boca continuou.
«És um complexado. Então, marcas o
hotel ou queres que o marque eu?»
Saíram sempre de mãos dadas. Ele não
olhou para ninguém, mas sentiu que todo o mundo o olhava pelas costas.
Foram para o Hotel.
A última vez que Cláudio vira a sua
querida Estela, numa loja de brinquedos, acompanhada pela sua neta, fora há
quase um ano.
Conhecera-a há umas décadas, ainda
eram solteiros. Nessa altura amaram-se durante aproximadamente um ano, mas em
virtude de Cláudio se ter ausentado em serviço para a Suíça por cerca de ano e
meio, perdera o rasto de Estela. Por sua vez Estela esquecera-o em virtude do
seu comportamento e a falta de contactos que aos poucos foram escasseando.
Naquela tarde na loja de brinquedos
onde se encontraram, pouco puderam falar. Cláudio soube apenas que Estela,
outrora vivendo no Porto, tinha mudado a sua residência para Lisboa. Era já avó
de uma linda menina, que a acompanhava na altura. Estela, por sua vez, soubera
que Cláudio, embora já reformado e viúvo, continuava a trabalhar na mesma empresa
alimentar onde décadas antes trabalhara.
Decorria o mês de junho. Cláudio
entrou no gabinete de trabalho e após uma vista de olhos pela papelada, repara
numa nota de um telefonema de uma Estela. Ficou louco. Só podia ser a sua amada
Estela. Há quase um ano que aguardara por aquele telefonema.
De imediato entra em contacto com
ela.
«Estela, querida, há tanto tempo que
anseio este telefonema…»
«Cláudio, como tens passado? Olha,
antes de continuar vou pedir-te um favor. Evita telefonar-me. Eu entro em
contacto contigo sempre que possa. Sabes bem que tenho família e posso não
estar só. Podes deixar mensagem no telefone.» Informou Estela.
«Mas, voltas a telefonar-me daqui a
mais um ano?» Lamenta-se Cláudio.
«Não querido, juro que te telefono
em breve. Dá-me o teu número do telemóvel.»
Os telefonemas esporádicos passaram
a diários. O amor renasceu entre ambos. Os desejos de um encontro tornaram-se
numa obsessão. Ambos o desejavam, mas Estela receava esse encontro, receava
apaixonar-se novamente por Cláudio. Amara-o quando era jovem e sofrera muito
com a separação. Hoje era uma senhora casada, avó de uma linda menina, mas
nunca esquecera o seu primeiro amor, as maravilhosas noites no hotel onde
Cláudio se hospedava nas suas viagens ao Norte e posteriormente em sua casa.
Fora um ano que jamais iria esquecer. Agora era tarde, mas, seria tarde? Desejava-o
com todo o seu íntimo, desejava voltar a amar como nunca amara antes, nem mesmo
o seu marido, com quem casara mais para esquecer Cláudio, do que por amor. O
casual encontro na loja de brinquedos despertara-lhe recordações e debatia-se
com a sua consciência. Não queria vê-lo, mas desejava-o. Não queria um
encontro, mas não resistia. O seu desejo era superior, mas evitava-o. Queria
esquecê-lo, mas não conseguia. Sofria por não o ver e sofria por não poder
abraçá-lo e dizer-lhe que nunca o esquecera, que o amara sempre.
Não resistiu e foi naquela tarde de
outubro que marcou encontro num parque-auto subterrâneo.
Cláudio e Estela saem do parque-auto
direitos a um recatado hotel, sobem uma escadaria que mais parecia a escada do
Titanic. Uma empregada com a esfregona de limpeza, indica-lhe o quarto. Era um
quarto modesto, com cama de casal. Mal se viram sós, Estela mais afoita,
atira-se ao pescoço do seu amado e beija-o longa e apaixonadamente. Encosta-o à
parede e com o indicador apontado para o céu e encostado aos lábios,
segreda-lhe. “Chiu”, não mexe.» Cláudio,
estático olha-a sem entender quais os seus intuitos.
Estela ajoelha-se à sua frente,
tira-lhe o cinto, despe-lhe as calças e acaricia-o com amor. Cláudio,
paralisado não só pela situação como pelo prazer, afaga-lhe os cabelos, a cara
o peito. Pega nela ao colo e atira-a para cima da cama. Despe-a devagar,
apreciando aquela nudez que lentamente vai ficando visível. Recordou os anos em
que eram jovens e foi cobrindo-a de beijos à medida que o seu corpo nu se ia
mostrando. Beijou-a como sempre o fizera, com amor, carinho e desejo. Beijou
todos os centímetros do seu corpo, enquanto Estela se contorcia de prazer e o
acariciava também. O tempo parecia ter parado e horas depois, ainda numa dança
de corpos nus enroscados e cobertos de suor, amaram-se. Amaram-se como se quisessem
recuperar todos aqueles anos de separação.
A todos os momentos e diariamente a
troca de mensagens e de telefonemas eram constantes. O amor mútuo cresceu. Cláudio
queria vê-la novamente, tocá-la, beijar aqueles olhos que o olhavam e pareciam
dizer: AMO-TE TANTO… aquela boca que, calada, parecia chamá-lo de querido,
amor, estou apaixonada por ti. Queria tocar nos seus seios, acariciá-los e
beijá-los. Queria envolvê-la nos seus braços, apertá-la, beijar o seu pescoço
enquanto lhe segredava ao ouvido palavras de amor.
Um segundo encontro tardava. Estela
adiava-o constantemente, amava-o, mas temia, era uma senhora casada. Estava
apaixonada por Cláudio. Um segundo encontro era o seu maior desejo, mas
debatia-se com a sua consciência. Queria-o nos seus braços, desejava-o
ardentemente. A sua consciência não a deixava. Não dormia, apenas pensava no seu
querido Cláudio.
Por sua vez Cláudio desesperava,
queria-a junto a si, amá-la com naquela tarde outubro. Compreendia a situação
de Estela. Sabia que não amava o seu marido, mas tinha de o respeitar. Os telefonemas
e mensagens entre ambos eram diários.
«Eu quero, querido. Eu amo-te, mas,
não compreendes… não posso, não devo.» Dizia muitas vezes Estela em momentos de
ternura, quer por telefone, quer por mensagens.
«Compreendo, amor, mas sofro por não
te ver, não sentir o teu cheiro, não tocar nos teus cabelos, nas tuas mãos.»
Queixava-se Cláudio.
Os meses passavam, o amor mantinha o
contacto entre ambos, quer por telefone quer por mensagens. Muitas noites
passavam em mensagens amorosas amando-se virtualmente. Estela jurava que iria
amá-lo ou chorar por ele. Cláudio amava aquela mulher e não queria aceitar um
não a um reencontro. Queria olhar aqueles olhos que o convidavam a amá-la.
Aqueles lábios que lhe pediam um beijo. Queria mordê-los como o fizera outrora.
O sabor daquela língua que o excitava. Aquele cabelo onde tantas vezes entrelaçara
os dedos. Aquele corpo que lhe aquecia o coração.
«Querido, o que mais me custa são as
noites, passo-as a pensar em ti, agarro as minhas maminhas e imagino as tuas
mãos acariciarem-me.»
«Estela, meu amor, não me faças
sofrer mais.» Queixava-se Cláudio.
Estas conversas prolongavam-se por horas.
Amavam-se a toda a todo o momento, quer por telefone que por mensagens. Estavam
loucamente apaixonados, mas Estela, tinha medo, medo de um reencontro. Queria
muito vê-lo novamente, mas receava, a sua consciência não a deixava. Sofria e
desesperava.
«Um dia mando tudo à “fava”, a minha
consciência não me deixa, mas qualquer dia perco a cabeça e corro para os teus
braços.» Declarava Estela nos dias mais deprimentes.
«Não me amas, Estela, se me amasses
como dizes corrias para junto de mim.» Lamentava Cláudio.
«Amo-te, amo-te muito, mas não
posso, não devo.» Declarava Estela.
As zangas começavam, os amuos e rebeldia eram
agora constantes. Guerreavam-se sem motivos. Guerreavam-se por não se verem,
não se acariciarem, não se tocarem. Mas Estela continuava presa à sua consciência,
não podia, não devia. Não. Não.
Certo dia aconteceu o inevitável.
Amuos, dias sem se contactarem, mas havia sempre um que cedia e voltavam aos
contactos.
«Como sabes esta é a única forma de me
“ouvires” sem me interromper…» escrevia Cláudio a Estela. «Pedi-te para atirar
as pedras fora e depois contactar-me. Fingiste não entender e respondes que já
as atiraste, mesmo as que estavam no fundo da alma e que, os amigos que te
conhecem sabiam que, quando se trata da tua dignidade, és radical.
Primeiro: as
pedras saem pela boca disfarçadas em palavras, nunca pela alma. Segundo: a tua
dignidade é igual à minha. Sim, também a tenho, apesar de, no teu pensamento,
ter todos os defeitos que diária e constantemente me apontas. Só que não sou
radical. Um ano de contactos telefónicos ou escritos, deram para te conhecer
melhor do que pensas. Por muito que escondas, há sempre um palavra que te
denuncia. A tua franqueza, a tua sinceridade deixa transparecer que as pedras
que atiras são pela boca, nunca pela alma. És boa demais para ter pedras no teu
interior. Por seres aberta, sincera, por dizeres o que pensas, tornam-te a
mulher que eu admiro e louvo, mas a tua sinceridade por vezes magoa, fere-me
profundamente. Pedi-te há dias para nos deixarmos de guerrilhas que nos fazem
mal. Agora fui mais direto, pedindo-te que deitasses as pedras fora e
respondes-me daquela maneira. Eu calculo que andes desesperada, tal como eu,
mas não é caso para me acusares de leviano. Recorda que não tenho 40 anos, que
não sou tenho vida nem idade para flirts. A minha sinceridade para contigo
tem-me prejudicado e tu abusas. Eu sempre te respeitei e admirei. Não me acuses
de te ofender por que nunca o fiz intencionalmente.»
«Sabes bem que não posso nem devo.
Respeita-me. Gosto de ti, amo-te, bem sabes, mas a minha situação não me
permite leviandades. Bem sei que fui a culpada. Não devia ter ido contigo
naquele dia.» Lamenta-se Estela.
Estas conversas muitas vezes
azedavam e outras tantas se zangavam.
«Penso muitas vezes em ti, no teu estado de alma. Não
conseguia concentrar-me no que escrevia, repetia as questões. Não lia o que me
escrevias. Desculpa-me por isso. Andas nervosa com tudo isto. Debates-te entre
o que queres e o que a tua consciência não quer. Compreendo-te perfeitamente a
revolta entre ti e a tua consciência obrigam-te a uma luta constante. Gritas,
contigo própria. Não podes desabafar em casa. Acumula-se dentro do teu peito um
mal-estar que te obriga a gritar, a dizer basta. Isto não pode continuar. Estou
cansada. Desabafas comigo. Gritas comigo. Dizes coisas que não querias. Eu sei,
Estela. Eu sei que não és tu que o fazes. É a tua consciência. Por isso aceito
essa teu rebeldismo. Refilo contigo, com o que me dizes, mas também não sou eu,
é o meu subconsciente ou a minha consciência inconsciente que fala e contesta
em meu nome. Tens de concordar que a nossa convivência tem vindo a degradar-se
cada dia que passa. Que, qualquer dia, começaremos a insultar-nos, a lutarmos
um contra o outro. Apetece-nos batermo-nos, ferirmo-nos, magoarmo-nos com
palavras. Se nos encontrássemos neste momento lutaríamos? Insultávamo-nos? Ou
correríamos para os braços um do outro? Provavelmente nunca o iremos saber.
Naquela noite pensei em nós. Não podíamos continuar a nossa luta daquela
maneira. Teríamos de parar. Teríamos de sacrificar o lado amoroso para vivermos
em paz, um com o outro. Foi difícil e muito penosa a minha exposição. Tocou
muito no meu interior. Ponderei imenso e um de nós teria de tomar uma iniciativa.
De outra forma onde nos levaria esta vivência? Foi pelo amor que nutrimos um
pelo outro, e antes que esse amor acabe, que tomei esta iniciativa. Estela, eu
amo-te apaixonadamente, bem sabes. Pensa um pouco: quererias continuar a
martirizarmo-nos, a guerrearmos, a gritarmos um com o outro até que nos
odiássemos? Não, por certo. Sejamos amigos, amemo-nos em surdina, tal como nos
amamos virtualmente, mas não nos declaremos. O que é preferível? Amarmo-nos ou
guerrearmo-nos? Estela, admiro a tua força, a tua consciência e é por isso que
há um ano continuo a não te querer substituir “pela mais pintada”. Sabe-lo bem.
Sabes que, ou pelo menos deves calcular, se eu tivesse alguém a quem dar o meu
amor continuaria contigo a martirizar-te e a mim? Estela, foi por te amar, por
não te querer perder, que te apresentei a proposta de sermos amigos e não
falarmos de amor um ao outro.» Escreveu certo dia Cláudio à sua amada Estela.
A promessa de amizade entre ambos pouco
durou. Os telefonemas e mensagens continuaram amorosos. Continuaram as juras de
amor e promessas de um dia se reencontrarem e se amarem.
Aproximava-se o aniversário de
Cláudio e Estela cautelosamente se referia a esse dia, o que costumava fazer,
onde ia, com quem passava, etc.
«É um dia como os outros. Já há
muito que deixei de festejar o meu aniversário.» Informa Cláudio.
Em véspera desse dia, Estela
telefona a Cláudio.
«Querido, amanhã tenho uma surpresa
para ti. Vais a algum lado?»
«Não. Porquê?»
«Quero ver-te.»
«Não acredito, amor.»
«Não queres, querido?»
«Oh, amor, é a minha prenda de
anos?»
«Sim, às 3 horas encontramo-nos na
pastelaria onde nos conhecemos há 40 anos. Recordas-te?»
«Como se fosse hoje.» Declara
Cláudio.
Nesse dia, Cláudio esmera-se não só
no vestir como no tratamento do corpo, da barba, unhas, cabelo, etc.
Perfuma-se, emboneca-se como de fosse apresentar-se pela primeira vez a um
concurso de manequins. Iria ver a sua grande paixão, a sua Estela. Queria
impressionar.
Meia hora antes da hora marcada, ali
estava ele sentado a uma mesa não longe da entrada da pastelaria, onde 40 anos
antes conhecera Estela. Pede um café e uma garrafa de água. Lê o jornal ou
melhor finge ler, pois o seu olhar não se desviava da porta de entrada. Olha o
relógio de minuto a minuto. São três da tarde, Estela deveria chegar a todo o
momento. Por várias vezes mete a mão ao bolso para tirar um cigarro e de
imediato percebe que não pode fumar naquele local. Vira a folha do jornal que
não tinha lido. Mexe-se na cadeira e bebe um pouco de água. Volta a virar a
folha do jornal que não lera. Para numa página onde estão as palavras cruzadas.
Mete a mão ao bolso para tirar uma caneta que não tem. Pensa: para que quero a caneta? Não consigo concentrar-me.
Mas, que terá acontecido? São quase quatro da tarde e Estela não aparece, não
telefona. Vou telefonar-lhe. Pega no telefone. Por três vezes tenta ligar,
mas desiste. Aguardaria mais um pouco. Teria
Estela brincado com ele? Seria que o enganou? Não, Estela nunca faria isso. Era
aquela a pastelaria onde a conhecera, não havia engano. Pensava Cláudio.
Chamou o empregado.
«Reserve-me a mesa por favor. Vou só
fumar um cigarro e volto já.»
À porta da pastelaria olha em volta.
Sabia que Estela tinha um carro, a sua cor, matrícula, mas ali seria difícil um
lugar. Andaria à procura de lugar? Mas,
porque não telefonava? Cláudio pensava em tudo, mas não conseguia
vislumbrar uma solução. Voltou para dentro. Pediu mais um café e água. Pela
centésima vez olha o relógio. Quatro horas e trinta. Agarra o telemóvel com um
nervosismo. Vou telefonar. Decide.
Liga e, para seu espanto, uma voz
masculina atende:
«Sim?»
«Queria falar com D. Estela.»
Informa a medo Cláudio.
«Daqui fala um enfermeiro do INEM.
Vamos a caminho do hospital. A D. Estela sofreu um acidente…»
«Mas,» interrompe Cláudio. «Que
aconteceu?»
«Foi grave, D. Estela não resistiu.»
Informa o pessoal do INEM.»
«Grave? Mas… está viva?»
«Infelizmente não.» Responde o enfermeiro.
«Está, ESTÁ? Quem está ao telefone? ESTÁ?»
Grita o enfermeiro que não obtém resposta.
O pessoal do INEM, não obteria jamais
resposta. Desconheciam que o frágil coração de Cláudio não aguentara a notícia.
À noite, no necrotério, o corpo de Cláudio
repousava numa maca. No seu rosto parecia haver um sorriso de felicidade. A dois
metros da sua maca jazia o corpo de Estela. O destino não os quisera juntar em vida,
juntou-os na morte.